Os lusitanos constituíram um conjunto de povos ibéricos pré-romanos de origem indo-europeia
que habitaram a porção oeste da península Ibérica desde a idade do ferro. Em 29 a.C., na sequência
da invasão romana a que resistiram longo tempo, foi criada a província romana da Lusitânia nos seus
territórios, correspondentes a grande parte do actual Portugal.
A figura mais notável entre os lusitanos foi Viriato, um dos seus líderes no combate aos romanos.
Outros líderes conhecidos eram Punicus, Cæsarus, Caucenus, Curius, Apuleius, Connoba e Tantalus.
Os lusitanos são considerados, por antropólogos e historiadores, como um povo sem história por
não terem deixado registos nativos antes da conquista romana.[1] As informações sobre os
lusitanos são-nos transmitidas através dos relatos dos autores gregos e romanos da antiguidade
o que por vezes causa diversos problemas ou conflitos na interpretação dos seus textos.
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Origem
Os antepassados dos lusitanos compunham um mosaico de diferentes tribos que habitaram
Portugal desde o Neolítico. Não se sabe ao certo a origem destas tribos celtas, mas é muito
provável que fossem oriundas dos Alpes suíços e teriam migrado devido ao clima mais quente
na península Ibérica. Miscigenaram-se parcialmente com os invasores celtas, dando origem aos lusitanos.
Entre as numerosas tribos que habitavam a península Ibérica quando chegaram os romanos,
encontrava-se, na parte ocidental, a dos lusitani, considerada por alguns autores a maior das tribos
ibéricas, com a qual durante muitos anos lutaram os romanos.[2]
Supõe-se que a zona do centro de Portugal era habitada pelos Lusis ou Lysis que teriam dado
origem aos Lusitanos. Os Lusis eram provavelmente povos do Bronze Final, linguística e
culturalmente de origem indo-europeia e pré-céltica que numa época posterior vieram a sofrer
influências hallstáticas e mediterrânicas, isto ao longo dos séculos VIII e VII a.C..[3]
Os Lusis foram referidos pela primeira vez no Ora Maritima de Avieno onde foram chamados de
pernix, que significa ágil, rápido e é o adjectivo que se aplicava ao praticante de jogos de destreza
física.[4]
Etnia segundo os autores da antiguidade
Os escritores da antiguidade identificaram duas etnias na península Ibérica, a ibera e a celta, e
qualificavam os seus habitantes como sendo iberos ou celtas ou uma mistura das duas etnias. No
entanto o conceito de ibero podia ser usado num sentido geral, isto é, num sentido geográfico,
referindo-se ao conjunto dos seus habitantes, num sentido restrito a um conjunto de tribos com a
mesma etnia, ou mesmo podia variar consoante o conceito da época, e o mesmo se pode considerar
relativamente ao conceito de celta da Ibéria ou celtibero.[5]
Diodoro Sículo considerava os lusitanos um povo celta: "Os que são chamados de lusitanos são os
mais valentes de todos os cimbros".[6] Estrabão diferenciava os lusitanos das tribos iberas.[7]
Viriato foi referido como líder dos celtiberos.[8] Os Lusitanos também eram chamados de Belitanos,
segundo Artemidoro.[9][10]
Indícios arqueológicos e pesquisas etnográficas relativamente recentes sugerem que os lusitanos
estejam ligados aos lígures, possivelmente através de uma origem comum.[11] No entanto, a
religião, a onomástica, nomes próprios e topónimos, e escavações nos castros lusitanos revelam
tratar-se de um povo celta. Entre os autores modernos não existe consenso, são considerados
iberos, lígures ou celtas.[12]
Tribos
Povos (populi) que constituíam os Lusitanos (Lusitani), conforme descrito na Ponte de Alcântara
(CIL II 760):
- Igaeditani
- Lancienses Oppidani
- Tapori
- Coilarni ou Colarni
- Lancienses Transcudani
- Aravi
- Meidubrigenses
- Arabrigenses
- Paesures
Língua e escrita
As principais inscrições foram feitas em território português em Lomas de Moledo e Cabeço
das Fráguas; a outra inscrição procede de Arroyo de la Luz (Província de Cáceres, Espanha)
no território dos vetões.[13] Como exemplo segue-se a inscrição de Cabeço das Fráguas
do século III d.C.:
OILAM TREBOPALA
INDI PORCOM LAEBO
REVE TRE[…]
COMMAIAM ICCONA LOIM
INNA OILAM VSSEAM
TREBARVNE INDI TAVROM IFADEM[…]—Esta inscrição traduz-se habitualmente como: "[é sacrificada]uma ovelha a Trebopala, e um porco a Laebo, oferenda a IcconaLuminosa, uma ovelha de um ano a Trebaruna e um touro sementala Reve Tre[baruna(?)]".
As inscrições lusitanas (escritas em alfabeto latino) mostram uma língua celtóide facilmente
traduzível e interpretável, já que conserva em maior grau a sua semelhança com o celta comum.
A conservação do p- inicial em algumas inscrições lusitanas, faz com que muitos autores não
considerem o lusitano como uma língua celta, mas celtóide. O celta comum perde o p- indo-europeu
inicial. Por exemplo: "porc/om" em lusitano seria dito "orc/os" em outras línguas celtas como o
celtibero, goidélico ou gaulês.
Para estes autores, o lusitano mais do que uma língua descendente do celta comum, seria uma
língua aparentada ao celta comum, ou seja, uma variante separada do celta, mas com muita relação
a ele. O alfabeto latino, o sistema de escrita utilizado nas inscrições já era usado na península Ibérica
pelos povos que habitavam junto ao mar, segundo informação de Artemidoro,[14] no princípio do
século I a.C., época em que visitou a península Ibérica.
Os autores antigos diziam que as pessoas das diferentes tribos que habitavam a península Ibérica,
a Ibéria, falavam línguas diferentes, mas não tinham dificuldade em entenderem-se umas às
outras.[15] O que poderia revelar uma situação de possível bilinguismo ou até poli-linguismo
na península Ibérica.
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Estrabão: Geografia 3.3.6[16][17] |
Guerreiro lusitano
Os guerreiros ibéricos são citados como tropas mercenárias na batalha de Hímera em
480 a.C.. Os mercenários ibéricos aparecem nos principais confrontos bélicos do Mediterrâneo,
tornando-se num dos pilares dos exércitos do Mediterrâneo central. Estão presentes na batalha
de Selinute, Agriento, Gela e Calamina. Surgem em outros conflitos na segunda guerra grego-púnica,
na Sicília, em Siracusa, em Atenas e estão presentes na defesa de Esparta na batalha de Krimios,
na Primeira Guerra Púnica, e com os púnicos no norte de África.[18] Tito Lívio (218 a.C.) descreve
os Lusitanos pela primeira vez como mercenários ao serviço dos cartagineses na guerra contra
os romanos.
Os lusitanos foram considerados pelos historiadores como hábeis na luta de guerrilhas. Eram
indivíduos jovens na plenitude da sua força e agilidade e seleccionados entre os mais fortes. Neles
recai a defesa da comunidade quando está ameaçada. A preparação militar dos jovens guerreiros [a]
tinha lugar nas montanhas em lugares específicos.
"Em tempo de guerra eles marcham observando tempo e medida;e cantam hinos (paeans) quando
estão prontos para investir sobre o inimigo"[6] batendo nos escudos à maneira ibérica.[19]
Mulheres guerreiras
Apiano relata que quando o pretor Brutus, ao perseguir Viriato, atacou as cidades da Lusitânia as
mulheres lutavam e morriam valentemente lado a lado com os homens. Depreende-se que de
alguma forma o treinamento militar também era dado às mulheres a quem recaia também
a defesa dos castros.[20]
Iuventus lusitana
A iuventus, uma organização paramilitar que preparava os jovens para a guerra, era uma
adaptação urbana das fraternidades guerreiras da idade do bronze. A iuventus lusitana[21] era
formada por grupos de jovens,[22][23] que recebiam treinamento militar e que provavelmente
serviam como militares de reserva na defesa dos castros. Organizações similares encontravam-se
entre os celtas, celtiberos e romanos.[24][25] O massacre da "flos iuventutis"[26] lusitana, por Galba,
desencadeou um conflito que ficou conhecido como a guerra lusitana.
Armas utilizadas pelo exército lusitano
Segundo Tito Lívio, são as seguintes as armas utilizadas pelo exército lusitano:[27][28]
- Armamento ofensivo usado na luta corpo a corpo
- punhal de fio recto e antenas atrofiadas[29] ou afalcatado.
- espadas[30] tinham um esmerado processo metalúrgico, com uma resistência e flexibilidade
- fora do comum para a época. Usavam a espada do tipo La Tène, a espada de antenas
- atrofiadas e a falcata.[31][32]
- lança de ponta de bronze - segundo Estrabão, estas lanças eram de uma época antiga e
- supõe-se que a sua presença se devia a ainda serem usadas em rituais que teriam origem
- nas tradições das fraternidades guerreiras da idade do bronze.[33]
- labrys,[34] machado de dupla lâmina que aparece em moedas romanas da lusitânia não
- parece que era usado pelos lusitanos mas pelos cantabros.
- Armamento ofensivo de arremesso
- Armamento defensivo
- caetra, pequeno escudo de dois pés de diâmetro que se manejava com a mão esquerda,
- era feito de madeira, couro, nervos trançados, bronze ou ferro, ficava suspenso por correias
- que eram manejadas habilmente para se defenderem dos dardos. Era decorado com o
- desenho de um labirinto, que se supõe ter sido um símbolo ou emblema étnico de
- reconhecimento entre os lusitanos.[35]
- cota de malha era feita de pequenas argolas de ferro entrelaçadas, era pesada, e usada
- apenas por alguns guerreiros, provavelmente os líderes.
- couraça de linho, o tipo de protecção mais usada, era mais leve e adaptada ao clima que
- as cotas de malha, e provavelmente mais barata.
- elmos eram de couro, de nervos trançados ou de metal e parecidos com os dos celtiberos,
- do tipo montefortino,[36][37][38] elmos de três cimeiras (penas) de cor purpura.[39][40]
- polainas eram feitas de couro para proteger as pernas.
Os guerreiros lusitanos realizavam competições entre si, em que tomava parte a cavalaria e a
infantaria; competiam em boxe, corridas, faziam combates de grupo e combates entre esquadras.[41]
Estrabão reconhecia que os lusitanos lutavam como peltastas,[42] e eram organizados e eficientes
a posicionarem-se na linha de batalha ou a movimentarem-se concertadamente para posições
estratégicas.[17]
As lutas dos lusitanos contra os romanos começaram como mercenários no exército púnico e depois
reacenderam em 193 a.C.. Em 150 a.C. o pretor Sérvio Galba, após ter infligido grandes punições
aos lusitanos, aceitou um acordo de paz com a condição de entregarem as armas, aproveitando
depois para os chacinar. Isto fez lavrar ainda mais a revolta e, durante oito anos, os romanos
sofreram pesadas baixas.
As guerras lusitanas acabaram com o assassínio traiçoeiro de Viriato por três aliados tentados pelo
ouro romano. Mas a luta não parou e para tentar acabá-la Roma mandou à península o cônsul
Décimo Júnio Bruto Galaico, que fortificou Olisipo, estabeleceu a base de operações em Méron
próximo de Santarém, e marchou para o Norte, matando e destruindo tudo o que encontrou até à
margem do Rio Lima. Mas nem assim Roma conseguiu a submissão total e o domínio da Lusitânia.
A tomada de Numância, na Celtibéria, pelos romanos, foi vista como um símbolo da resistência
dos aliados dos lusitanos.
Estratégias militares
Os lusitanos não lutavam uma guerra defensiva. Pelo contrário, planeavam uma guerra ofensiva.
Faziam campanhas de longa distância em que deslocavam as operações militares para diversos
locais na península Ibérica, chegando mesmo até África.[43] A geografia destas operações militares
mostra uma dupla intenção: assegurar o controle das regiões da Beturia e com isto ocupar posições
chave que impedissem o avanço dos romanos, e punir as tribos aliadas dos romanos que eram
consideradas traidoras,[44] além de destruir as bases operacionais que eram instaladas nestas
A deslocação das operações militares para outra região implicava a divisão dos exércitos: havia
exércitos que eram enviados para diversos locais na península, e exércitos que ficavam na Lusitânia
a defender os castros. Compreende-se nesta divisão uma necessidade estratégica de defesa.
Os romanos também dividiam os seus exércitos para cobrir uma região mais vasta, enviavam um
contingente para a Hispânia Ulterior e outro para a Hispânia Citerior. Apiano relata um tipo de
ataque concertado com duas frentes, em que dois exércitos consulares romanos, comandados por
Luculus e Galba, invadiram de forma concertada duas regiões da Lusitânia. Estas acções concertadas
frequentemente envolviam as tribos aliadas dos romanos.[43]
Nos confrontos militares com os povos da Grécia ou Ásia, a vitória ou derrota de uma guerra era
decidida numa batalha, raramente em duas; a batalha era decidida pelo resultado da primeira carga
e pelo choque dos dois exércitos. Pelo contrário, na Lusitânia a guerra era uma sucessão de batalhas
apenas interrompidas pelo inverno, embora nem sempre; as batalhas só cessavam com o cair da
noite, para continuar com vigor renovado no dia seguinte.[44]
O exército lusitano era formado por uma força combinada de cavalaria e infantaria, versado num
tipo de combate híbrido: combatiam em campo aberto ou em terreno árduo e montanhoso.
Os romanos identificavam dois tipos de conflitos: latrocinium, quando eram utilizadas tácticas de
guerrilha, quando as tribos aliadas aos romanos eram atacadas ou quando eram usados pequenos
exércitos; e bellum, que implicava uma declaração de guerra conforme a tradição romana, o uso de
um exército regular e combate em campo aberto.[46]
O controle táctico das unidades de combate era possivelmente feito com o uso de estandartes. Pela
indicação de Tito Lívio, (134 estandartes num exército de 12.540 guerreiros),[47] cada estandarte
deveria guiar unidades de cerca de noventa guerreiros lusitanos - unidades semelhante à centúria
romana - ou apenas divisões por tribos, como faziam os Iberos. Os estandartes eram consagrados a
uma divindade guerreira, Bandua.[48]
Segundo Júlio César, por ser inesperada e desconhecida dos legionários, a sua maneira de combater
desorganizava completamente as fileiras romanas.[49]
- Tácticas ofensivas
- emboscadas.[50]
- ataques surpresa.
- ataques nas horas mais quentes do dia ou durante a noite.
- concursare.[51][52]
- súbita dispersão das tropas e posterior reagrupamento em local combinado.
- formação em cunha ou v invertido - táctica usada pela cavalaria ibera e celtibera.
- desmoralização do inimigo - nos castros dispunham como troféus, diversas insígnias,
- fasces e as túnicas militares conquistadas aos romanos.[53][54]
- Tácticas defensivas
- retiradas militares estratégicas.
- translado de populações.
- uso da cavalaria - formavam linhas à frente para retardar as tropas inimigas e proteger
- a retirada das suas próprias tropas.
- terra queimada.
Estrutura dos povoados
As casas de pedra tinham forma redonda ou rectangular; eram cobertas de palha e ficavam
situadas no alto de morros ou colinas, agrupando-se em aldeias - os castros citados pelos
historiadores antigos.
As casas eram dispostas ordenadamente e formavam algo semelhante a bairros, organizados
por famílias e subdivididos em diversos núcleos habitacionais que distribuíam-se em torno de um
pátio, de acordo com a sua função. Incluíam cozinha com lareiras a forno, local de armazenagem
de géneros, zonas de dormida, recinto para guarda de animais.[16]
A decoração das casas, em relevo e gravura, era feita com motivos geométricos, em forma de corda,
de espinha, com círculos encadeados ou sinais espiralados, tríscelos e tetrascelos, cruciformes e
serpentiformes.
Nos castros destacava-se um grande edifício de planta circular, para reuniões do conselho comunitário,
com bancos ao redor. Havia ainda os balneários públicos para banhos frios e de vapor. As ruas eram
calcetadas com pedras regulares.
Encontram-se dois tipos de castros: fortificados, cercados com muralhas defensivas feitas de
grandes pedras, chegando a alcançar um quilómetro de perímetro; e abertos, sem estruturas de
defesa visiveis.[55] Outros tipos de povoamentos eram os chamados de casais agrícolas.
Verifica-se uma relação estreita entre a fortificação dos povoados e a exploração de metais,
encontrando-se frequentemente conheiras e minas de filão perto de castros fortificados.[56]
Os instrumentos musicais incluíam a flauta e a trombeta, com que acompanhavam seus coros e
danças, de que os romanos deixaram algumas descrições. Homens e mulheres bailavam em
danças de roda, de mãos dadas.
Sociedade
A sociedade lusitana essencialmente guerreira denotava a presença de uma hierarquia social
em que o guerreiro ocupava uma importante posição. Era uma sociedade aristocrática, na qual
a maior parte da riqueza estava nas mãos de um grupo reduzido de pessoas. A presença de jóias
e de armas nos túmulos indica a presença de uma elite guerreira.[57][58]
A organização da família lusitana revela uma estrutura gentílica da sua sociedade, era referida nas
fontes epigráficas com a designação de gentes ou gentiliates. Os lusitanos encontravam-se unidos
entre si por laços de sangue ou parentesco e não pelo território ocupado.[59]
O tipo de governo era a chefia militar, na qual o líder era eleito em assembleia popular, escolhido
entre aqueles que se distinguiam pela coragem, valor, capacidade de liderança e vitórias obtidas em
tempo de guerra. Os autores gregos referiam-se a estes chefes militares como hegoumenos, isto é,
líder, chefe, e os romanos dux. No entanto, o nome de regnator (rei),[60] e principe,[61] também
foram referidos. O hospitium, em que adoptavam-se estranhos na comunidade, é também considerado
um costume dos lusitanos.
Apiano revela a existência de uma propriedade comunitária,[62] que para além de terras incluía
cavalos, produtos agrícolas e diversos outros bens comunitários[63] incluindo um tesouro público,
do qual fala Diodoro.[64] Esta propriedade comunitária deveria de coexistir a par da propriedade
privada. Os lusitanos eram um povo autónomo (grego: αὐτονόμων), com leis próprias.[65]
Os lusitanos tinham o hábito de frequentar salas onde iam untar o corpo com óleos duas vezes
ao dia, tomavam banhos de vapor que emanavam de pedras aquecidas. Lançavam água sobre
pedras ao rubro e tomavam em seguida um banho frio. Os balneários eram decorados com gravuras
em baixo relevo, como indicam os monólitos Pedra Formosa encontrados em sítios arqueológicos
castrejos. Estrabão comenta que viviam de uma maneira simples e limpa semelhante à dos
lacedemônios. [41]
As refeições em que os Lusitanos se juntavam, apenas uma vez por dia, tinham lugar numa sala
onde sentavam-se em bancos móveis, encostados à volta das paredes da sala. A disposição dos
bancos obedecia a uma hierarquia que colocava na frente os de mais idade e seguia uma ordem
consoante a posição social.[41]
O alimento mais característico era o pão de bolota ou glande de carvalho;[66] bebiam leite de cabra
e cerveja de cevada, reservando o vinho para as festas, com uma produção desde a época
pré-romana.[67] Caça, pesca (usavam barcos feitos de couro, ou de um tronco de árvore),
produção de gado bovino e equino, produção de mel e lã, assim como trigo, cevada, linho e
mineração, eram actividades referenciadas.[68] O custo de vida era muito barato, no século II a.C.,
os produtos de pesca, ovinos, caprinos e agrícolas abundantes e as peças de caça eram dadas de
graça a quem comprava alguns destes produtos.[69]
O escambo era usado nas regiões do interior, onde também usavam peças cortadas de prata
batida como dinheiro. Os homens vestiam-se de preto e usavam capas simples, as mulheres capas
compridas e vestidos de cores vivas. Os homens usavam os cabelos compridos, como as mulheres,
mas que prendiam à volta da testa quando combatiam.[41] Eram tipicamente monogâmicos,
casavam-se em cerimónias com rituais semelhantes aos dos gregos. [70]
Culto religioso
Os lusitanos praticavam sacrifícios humanos e, quando o sacerdote feria o prisioneiro no ventre,
faziam-se vaticínios segundo a maneira como a vítima caía. Sacrificavam a Ares, deus da guerra,
não só prisioneiros, como igualmente cavalos e bodes. Os sacerdotes, a quem Estrabão chama
de hieroskópos, segundo a hipótese de alguns autores, fariam parte de um grupo de pessoas
reconhecidas pelo seu prestígio, sabedoria e experiência.[71]
Os locais de culto funerários, de grande interesse para os arqueólogos, encontram-se por todo o
território da antiga Lusitânia. Do período paleolítico, conhecem-se cemitérios onde os corpos
estavam dispostos com restos de alimentos, utensílios e armas; do megalítico abundam os dólmens,
conhecidos em Portugal como antas ou mamoas - porque os montículos de terra que se acumularam
sobre eles criaram essa forma arredondada.
Os santuários eram erigidos nas massas rochosas de locais com certo domínio da paisagem, à beira
de cursos de água ou junto a montes.[72][73] Nestes santuários encontram-se cadeirões de pedra,
pias e altares, como no Castelo do Mau Vizinho, no Santuário da Rocha da Mina, no
Cadeirão da Quinta do Pé do Coelho, ou no Penedo dos Mouros.[74]
Também na área lusitana verifica-se a presença de estátuas chamadas berrões, que assume-se
terem sido utilizadas para fins de carácter religioso. Supõe-se que seriam animais sagrados.[75]