MARGARET STARBIRD
PREFÁCIO
- Por isso eu vim ao mundo, para ser testemunha da verdade.
Todos os que estão ao lado da verdade ouvem a minha voz.
- Verdade? O que é isso? - retrucou Pilatos.
Pilatos sabia que Jesus não era culpado de crime nenhum, mas
mesmo assim o condenou à crucificação. A "verdade" da
inocência de Jesus estava bem diante de seus olhos, porém
ele a ignorou. Em vez disso, concentrou-se nos poderes que
precisava enfrentar: o de César e o do Templo. Pilatos
sacrificou a vida de Jesus e a verdade para proteger a si
mesmo das forças religiosas e políticas que o ameaçavam.
Há uma lição penosa, mas extremamente importante, para
se tirar desse encontro: a verdade não é definida pelo poder
político nem pela convicção religiosa. Jesus não era culpado
de um crime porque as autoridades do Templo e a sentença
de Pilatos simplesmente assim o declararam, da mesma
maneira que o Sol não gira em torno da Terra somente
porque a Igreja Católica estabeleceu que isso era um fato.
A verdade não é determinada pelo desejo humano nem por
decretos - ela significa a harmonização da mente e do coração
humanos com o que realmente é.
Parece-me necessário dizer tudo isso porque, com muita
freqüência, o poder, a opinião pública e a tradição são
vistos como sinônimos da verdade. Os ensinamentos da
Igreja Católica Romana sobre a Sagrada Família são um
exemplo gritante. Segundo esses preceitos, José nunca teve
relações conjugais com sua mulher, Maria deu à luz um
único filho - Jesus - e permaneceu virgem ale o dia de sua
morte. E Jesus nunca se casou.
A Sagrada Família,por El Greco.
nos 12 anos em que fiz os cursos fundamental e médio
em uma escola católica. Além dos adicionais 23 anos de
educação jesuítica e formação sacerdotal. Impregnado dessa
tradição, reforçada pela idéia de que "com Deus tudo é
possível", aceitei alegremente essa imagem como algo
completamente coerente com a singularidade das revelações
de Deus. Com essa visão formada, eu considerava uma
grave afronta qualquer desconfiança em relação à
virgindade de Maria, José ou Jesus. Assim como Margaret
Starbird, que ficou estarrecida e chocada com a tese de
que Jesus era casado, eu também aceitava os ensinamentos
da Igreja sobre a castidade da Sagrada Família como uma
sacrossanta verdade.
Entretanto, após dez anos de pesquisas sobre as origens
históricas das leis da Igreja relacionadas ao celibato
sacerdotal, finalmente percebi que um grave preconceito
- para não dizer neurose - permeava as atitudes dessa
instituição quanto à intimidade conjugal. Esse preconceito,
originário do gnosticismo e do maniqueísmo, deixou uma
ressonante mensagem de que a intimidade conjugal era,
no máximo, tolerável ou mesmo uma perpetuação
pecaminosa do mal no mundo.
Marcião, um dos mais convictos cristãos gnósticos,
concedia o batismo e a Eucaristia somente às virgens,
viúvas e pessoas casadas que concordassem em não
praticar o sexo. Para os marcionitas, a natureza era um
mal e, como não queriam trazê-lo para a Terra,
abstinham-se do casamento. Julius Cassianus, outro
gnóstico, afirmou que os homens se transformam em
verdadeiras bestas durante o ato sexual e que Jesus
veio ao mundo para evitar que os seres humanos
copulassem.
Santo Ambrósio considerava o casamento um "fardo
mortificante" e exortava qualquer um que pensasse em
se casar a ter cuidado com a escravidão e a servidão
do amor conjugal. Para Tatiano, a relação sexual era
uma invenção do diabo, e a vida cristã tornava-se
"impensável fora dos limites da virgindade". Agostinho
afirmou que nada conseguiria puxar com mais facilidade
"a mente do homem das alturas para baixo do que as
carícias de uma mulher e aquela junção de corpos sem
a qual não se pode ter uma esposa". Justino Mártir era
tão avesso à intimidade conjugal que não podia imaginar
Maria concebendo Jesus por meio do sexo. Em vez disso,
ele afirmou que ela concebeu ainda virgem. Orígenes, que
acreditava que Jesus fizera voto de castidade, castrou a si
mesmo.
Essa presunção sobre as relações sexuais estava tão
profundamente arraigada que a Igreja, a partir do século
IV, criou leis proibindo que os sacerdotes casados fizessem
sexo com suas esposas e que tivessem filhos. Aos que
se recusaram a cumprir essas leis anticristãs e antiéticas,
sanções cada vez mais severas foram impostas, como
multas, espancamentos públicos, prisão, exoneração do
sacerdócio e invalidação de seus casamentos. Além disso,
o Papa ordenou que suas esposas e seus filhos
servissem como escravos da Igreja.
O meu despertar para essa neurose sexual presente nas
doutrinas da Igreja me deixou profundamente abalado.
Seria possível que essas atitudes distorcidas sobre a
intimidade conjugal tivessem, de forma significativa,
ajudado a moldar os ensinamentos sobre a Sagrada
Família? Seria possível que o desdém da Igreja pelas
relações sexuais tivesse resultado em uma representação
de Jesus, Maria e José que não correspondesse à verdade?
E se, de fato, Jesus não tiver sido o único filho de Maria?
Nesse caso, será que a própria Maria não se sentiria ferida
por ser considerada a mãe virgem de um único filho?
Não seria isso uma negação de seus outros filhos e uma
afronta à verdade de seu amor íntimo por seu marido?
Não. Seria isso um tremendo desserviço à fé cristã?
O Evangelho de Mateus afirma: "Enquanto Jesus ainda
falava ao povo, eis que sua mãe e seus irmãos apareceram
ali e pediram para falar com ele." Em Marcos 3:31 há:
"Chegaram sua mãe e irmãos e, por estarem eles do
lado de fora, mandaram chamá-lo." Contudo,
em Lucas 8:19: ."A mãe e os irmãos de Jesus chegaram,
mas não podiam se aproximar dele por causa da multidão".
E em Mateus 13:55-56: "Não é este o filho do carpinteiro?
Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos: Tiago, José,
Simão e Judas? E suas irmãs não vivem todas entre nós?"
São Paulo, em 1 Coríntios 9:5, diz: "Acaso não temos o
direito de deixar que nos acompanhe uma mulher, como
o fazem os outros apóstolos e os irmãos do Senhor e Pedro?
" Essas evidências das Escrituras dificultam bastante a
aceitação da afirmativa da Igreja de que José e Maria
não tiveram outros filhos além de Jesus e que o
casamento deles era, desde o começo, virginal.
Maria não é a mãe virgem de um único filho simplesmente
porque os ensinamentos da Igreja assim o declaram.
Existe uma verdade sobre sua prole e suas relações
matrimoniais com José. Professar essa verdade é o que
os honra. Se, realmente, Maria teve vários filhos e filhas,
como as Escrituras aparentemente atestam, não a
estaremos respeitando se acreditarmos ou afirmarmos
que ela deu à luz um único filho e morreu virgem. Da
mesma forma, Jesus não foi um celibatário só porque a
Igreja prega isso. Não há nada na Bíblia que prove que
ele nunca se casou nem que tenha feito uma promessa
ou um voto de jamais se casar.
O estudioso judeu Ben-Chorin apresenta uma
"cadeia de provas indiretas" para comprovar sua
crença de que Jesus era casado. Nos tempos de Jesus,
o judaísmo considerava o casamento uma obediência ao
mandamento de Deus que diz: "Crescei e multiplicai-vos.
" Lucas 2:51-52 afirma que Jesus, vivendo sob a autoridade
dos pais, "cresceu em sabedoria, estatura e graça diante
de Deus e dos homens". Ben-Chorin argumenta que teria
sido muito mais provável que os pais de Jesus, como era
costume na época, tivessem procurado uma noiva para
o filho e que Jesus, como todos os rapazes - principalmente
os que estudavam a Tora -, tivesse se casado.
Caso contrário, teria sido ainda mais criticado em razão
dessa falta pelos fariseus que se opunham a ele.
E São Paulo, ao apresentar razões para enaltecer o valor
do celibato, logicamente teria citado a própria vida de
Jesus como exemplo, caso este fosse um celibatário.
Mas ele nunca fez tal afirmativa. Portanto, Ben-Chorin
conclui: Jesus era casado.
Por outro lado, surge a questão: se Jesus se casou,
por que não existem nas Escrituras menções
específicas a esse fato ou ao nome de sua esposa?
A resposta de Margaret Starbird a essa pergunta é que
a ameaça física à vida da mulher de Jesus teria sido
motivo suficiente para excluir o seu nome de todos os
escritos da época. Essa explicação é bastante plausível,
especialmente se levarmos em consideração as severas
punições sofridas pelos primeiros seguidores de Jesus.
Ela diz ainda: "Eu não posso provar que Jesus se
casou nem que Maria Madalena era mãe de seu filho...
Mas posso constatar que esses são dogmas de uma heresia
amplamente aceita na Idade Média e que seus resquícios
estão presentes em numerosos trabalhos de arte e literatura.
Ela foi veementemente atacada pela hierarquia da Igreja
de Roma, mas conseguiu sobreviver, apesar da incansável
perseguição que sofreu".
Questionar os dogmas da fé pode ser algo extremamente
difícil e ameaçador, ainda mais quando lidamos com um
tema tão carregado de emoções quanto a identidade sexual
da Sagrada Família. É muito mais reconfortante aceitar
os ensinamentos oficiais e as tradições do que admitir a
pura verdade. Embora a Igreja Católica tenha contribuído
positivamente - e muitas vezes - para o desenvolvimento da
espiritualidade e da civilização, sua atitude quanto à
sexualidade humana apresenta graves falhas. Se esses
equívocos criaram uma imagem irreal de Jesus, Maria e
José, então cabe aos cristãos conscientes fazer todo o
possível para descobrir a verdade sobre a Sagrada Família.
É claro que essa busca requer sacrifícios e expõe os que
a desejam a injúrias e ao escárnio. Coragem e profundo
respeito pela verdade são virtudes necessárias a essa
peregrinação, pois a jornada é repleta de ameaças, tentações
e ilusões.
Este livro é uma corajosa exploração de uma questão
extremamente delicada. Ele tenta descobrir o sentido do
Santo Graal e resgatar a Noiva Perdida de Jesus.
Ainda não existem provas do casamento ou do celibato
de Jesus, e a própria autora admite que, por mais informativas
e significativas que sejam as suas descobertas, elas não
atestam sua tese. Mas, até que a Igreja possa oferecer
provas concretas de que Jesus nunca se casou, aqueles
que buscam - com seus corações, mentes e almas -
a verdade sobre ele e sua família não devem ser temidos
nem desprezados, e sim amplamente louvados.
REVERENDO TERRANCE A. SWEENEY, PH.D.
Mestre em Artes de Comunicação e
Doutor em Teologia e Humanidades
INTRODUÇÃO
O cristianismo institucional, que tem alimentado
a civilização ocidental há mais de dois mil anos,
pode ter sido construído sobre uma gigantesca falha
em sua doutrina: a Negação do feminino. Durante muitos
anos convivi com uma vaga sensação de que algo estava radicalmente errado com o meu mundo. Sentia que, por
um período longo demais, o feminino em nossa cultura
vinha sendo desprezado e desvalorizado. Mas foi somente
em 1985 que encontrei provas documentais de uma
devastadora fratura na história cristã. Em abril daquele
ano, sabendo do meu grande interesse pelas Escrituras
judaico-cristãs e pela origem do cristianismo, uma amiga
me indicou o livro O Santo Graal e a linhagem sagrada.
Após essa leitura, fiquei completamente atônita.
Minha primeira reação foi achar que os autores -
Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln -
tinham que estar errados. Sua obra era quase uma
blasfêmia. Eles sugeriam que Jesus Cristo havia sido
casado com a "outra Maria" citada nos Evangelhos:
a que chamavam "a Madalena": a mulher que, na arte
ocidental, era mostrada carregando um vaso de alabastro
- a santa a quem a Igreja chama de prostituta penitente.
Não fiquei apenas chocada com essa idéia, mas
profundamente abalada. Como a Igreja não teria
mencionado esse fato caso fosse verdade?
Uma afirmação de tamanha importância não poderia
ter sido negligenciada durante os dois mil anos de
história dessa instituição! Entretanto, as evidências
colecionadas por esses escritores sugeriam que a verdade
havia sido suprimida de maneira implacável pela Inquisição.
Como filha leal da Igreja Católica Romana, logo presumi
que os autores de tamanha heresia estavam enganados.
Mas a tese central - de que Jesus teria sido casado -
não me deu descanso. Ela me assombrava. E se fosse
verdade? E se Maria Madalena, a suposta mulher de
Jesus, tivesse sido apagada da história, e a Igreja, que se
iniciava, tivesse continuado a se desenvolver sem a
delicada presença dessa mulher?
Pensar sobre as implicações de tão terrível perda
para a Igreja e para a humanidade era algo insuportável
para mim. Aos prantos, orei para entender essa versão
herética do Evangelho. Eu sabia que precisava descobrir
a verdade. Amparada em meus conhecimentos acadêmicos
em literatura comparada, lingüística e estudos medievais
e bíblicos, enxuguei as lágrimas e comecei a pesquisar a
heresia, presumindo que logo encontraria meios de
refutá-la. O livro envolvera muitas áreas do meu interesse
pessoal e da minha formação profissional: religião,
civilizações medievais, arte, literatura e simbolismo.
Eu havia ensinado estudos bíblicos e educação religiosa
durante vários anos, por isso conhecia bem o terreno em
que estava pisando.
No início, imaginei que desmascarar a heresia seria
uma tarefa simples. Fui diretamente às pinturas dos
artistas citados pelos autores de O Santo Graal e a
linhagem sagrada como coniventes com a heresia
do Graal. Examinei os símbolos naqueles trabalhos,
comparando-os com as marcas-d'água dos albigenses
(hereges que se disseminaram no Sul da França entre
1020-1250 d.C.) que eu havia encontrado alguns anos
antes em uma obscura obra de Harold Bayley,
The Lost Language of Symbolism (A linguagem
perdida do simbolismo). Fiquei desconcertada ao
descobrir que as produções daqueles artistas medievais
continham claras referências que reforçavam a heresia
do Graal. Incapaz de refutá-la com base nesse fato,
prossegui em minha busca.
A pesquisa acabou por me levar às profundezas
da história européia, da heráldica, dos rituais da
maçonaria, da arte medieval, do simbolismo, da psicologia,
da mitologia, da religião e das Escrituras judaicas e cristãs.
Em todos os lugares nos quais procurava, encontrava
evidências do feminino que haviam sido perdidas ou
negadas pela tradição judaico-cristã e das várias tentativas
de devolver à Noiva a sua antiga e acalentada condição.
Quanto mais eu me envolvia com o material, mais claro
ficava que existia algo de real nas teorias propostas no
livro que eu lera. E, aos poucos, fui me rendendo aos
dogmas centrais da heresia do Graal, a mesma teoria que
eu havia me proposto a desacreditar.
Ao selecionar o material para este livro, trabalhei baseada
na teoria de que onde há fumaça há fogo. Quando tantas
evidências de fontes tão numerosas e diversas podem ser
reunidas para comprovar uma única hipótese, há uma boa
razão para levá-la a sério. Portanto, poderia mesmo existir
alguma verdade nos rumores que persistiram por dois mil
anos e que vieram à tona mais recentemente, para que
todos pudessem ver, nos filmes Godspell - A esperança,
Jesus Cristo superstar e A última tentação de Cristo, os
quais mostram o relacionamento de Jesus e Maria Madalena
como algo muito significativo e com uma intimidade toda
especial.
Eu não posso provar que os dogmas da heresia do Graal
são verdadeiros - nem que Jesus se casou, nem que Maria
Madalena era mãe de seu filho. Não posso sequer provar
que Maria Madalena era a mulher do vaso de alabastro
que ungiu Jesus em Betânia. Mas posso constatar que
esses eram dogmas de uma heresia amplamente aceita
na Idade Média e que seus resquícios estão contidos em
numerosos trabalhos de arte e literatura. Ela foi
veementemente atacada pela hierarquia da Igreja de Roma,
mas conseguiu sobreviver, apesar da incansável perseguição
que sofreu.
A heresia que manteve viva a outra versão da vida de
Jesus foi impiedosamente perseguida, julgada e condenada
à extinção. Mas a história do Noivo Sagrado/Rei de Israel
mostrou-se virulenta demais, até para a Inquisição.
E continuou a frutificar de tempos em tempos, como
uma robusta videira que se espalha debaixo da terra e
depois vem à superfície. Ela apareceu em situações em que a
Inquisição e a Igreja não podiam arrancar suas raízes - nos
contos do folclore europeu, em sua arte e literatura -, sempre
escondida, freqüentemente codificada em símbolos, mas
onipresente. Manteve viva a esperança da linhagem davídica,
que muitas vezes era chamada de "Videira".
Existem várias possibilidades sobre a heresia do casamento
de Jesus. Talvez ela seja autêntica e tenha sobrevivido
porque os que a defendiam não apenas acreditavam nela
como sabiam que era verdadeira (por exemplo, por meio
de provas como o célebre "tesouro dos templários":
sob a forma de documentos ou artefatos genuínos).
Ou talvez ela tenha sido disseminada na tentativa de
devolver o princípio do feminino perdido ao dogma
cristão, que estava claramente desequilibrado em favor
do masculino.
Essa restauração do equilíbrio dos opostos, base da
filosofia clássica, pode ter sido considerada necessária
para o bem-estar da civilização. O culto do feminino
floresceu em Provença no século XII. Tentativas
confluentes dos cabalistas judeus de resgatar a Senhora
Matronit como a esposa perdida de Jeová, na mitologia
judaica, comprovam o fato de que esse resgate do feminino
era visto como importante - ou mesmo vital.
Um movimento semelhante acontece hoje no mundo
ocidental, revelando-se em estudos junguianos na área
da psicologia, nos conceitos asiáticos do yin/yang e na
consciência da deusa. Também são muito significativas
as numerosas aparições recentes da Virgem Maria, a única
imagem de deusa permitida pela cristandade. E suas
imagens têm sido vistas derramando lágrimas em igrejas
cristãs por todo o mundo. Esses fenômenos vêm ganhando
destaque na mídia nos últimos anos. Até as pedras choram!
O feminino desprezado e esquecido está suplicando para ser
reconhecido e abraçado por nossa era moderna.
A perda do feminino teve um impacto desastroso em
nossa cultura. Masculino e feminino estão profundamente
feridos neste início do terceiro milênio. As dádivas do
feminino não foram aceitas ou apreciadas por completo.
Enquanto isso, o masculino, frustrado pela incapacidade de
harmonizar suas energias com um feminino bem desenvolvido,
continua a liderar o mundo empunhando a espada, brandindo
armas irresponsavelmente, atacando com violência e
destruição.
No mundo antigo, o equilíbrio entre as energias opostas
era compreendido e respeitado. Mas, no mundo moderno,
as atitudes e os atributos masculinos têm dominado.
A adoração do poder e da glória do princípio masculino/solar
está a poucos passos da "adoração do filho": um culto que,
com freqüência, produz um homem mimado e imaturo -
zangado, frustrado, entediado e, muitas vezes, perigoso.
Sem poder se integrar à sua "outra metade", o masculino
se exaure. O resultado final do princípio feminino
desvalorizado não é apenas a poluição ambiental, o
hedonismo ou a criminalidade desenfreada. O resultado
fundamental é o holocausto.
Este livro é uma exploração da heresia do Santo Graal
e um argumento a favor do resgate da mulher de Jesus,
com base em importantes provas circunstanciais.
É também uma busca do significado da Noiva Perdida na
psique humana, na esperança de que seu retorno ao nosso
paradigma de completude possa nos ajudar a restaurar a
terra infértil. Aqui, registrei os resultados da minha busca
pessoal pela Noiva Perdida na história cristã. Procurei
explicar de que modo ela foi esquecida e como esse fato
tem sido devastador para a civilização ocidental. Tentei,
ainda, visualizar o que aconteceria se conseguíssemos
restituí-la ao paradigma.
Os anos que passei pesquisando acarretaram conseqüências.
Levei o assunto a sério. Lutei com o material deste livro
e batalhei para lhe dar forma e substância. O trabalho
foi longo e difícil. Muitas vezes, temi que ele me virasse
do avesso. Doutrinas nas quais acreditei pela fé tiveram
que ser arrancadas e descartadas para que novas crenças
fossem plantadas e cuidadas até formarem raízes. Toda a
estrutura da Igreja Católica da minha infância precisou ser
desmontada para deixar à mostra a perigosa falha existente
em suas fundações, permitindo que um novo sistema de crenças
pudesse ser cuidadosamente reconstruído quando a fissura
tivesse se fechado. Esse processo durou muitos anos. Em
algum momento, desisti de ser apologista da doutrina e
embarquei na busca pela verdade. Estou dolorosamente
consciente de que minhas conclusões não são ortodoxas,
mas isso não significa que não sejam verdadeiras.
Muitas pessoas estão se tornando cada vez mais conscientes
do abismo que separa as descobertas dos modernos estudiosos
da Bíblia da versão de cristandade ensinada nos púlpitos
das igrejas. Espero que este livro possa ser uma ponte que
transponha esse hiato. Ao escrevê-lo, tomei a liberdade
de comparar passagens em várias Bíblias e escolher as
palavras que expressavam melhor o que eu pretendia dizer.
A Bíblia que usei por vários anos, de onde a maioria de
minhas citações foi extraída, é a Saint Joseph New Catholic
Edition (Nova Edição Católica de São José), de 1963,
somente porque ela é a Bíblia com a qual tenho maior
familiaridade. Em vários casos, os textos escolhidos foram
da Nova Versão Internacional (NVI) e estão identificados
com essa sigla. Tive a preocupação de manter a coerência
com relação ao uso dos nomes e à numeração dos livros e
salmos encontrados no cânon protestante da Bíblia.
Espero que este livro inspire outras pessoas a começarem
a sua própria busca pelo tesouro mais precioso da cristandade,
uma pérola de valor inestimável: o Santo Graal.
http://forum.gnosisonline.org/viewtopic.php?f=8&t=350
Continua...